quinta-feira, 7 de agosto de 2014

TANTRA- A mulher é rara

A Mulher é rara

O problema é que quase não há mais mulheres. Sustento que as mulheres desapareceram que houve uma catástrofe, que a raça das mulheres foi desperdiçada aniquilada sob nossos próprios olhos, que não puderam ver. Senhores, a mulher, a descendente. Do neolítico e do neolítico, nossa fêmea e nossa deusa, o ser que eu chamaria de  mulher do homem e que já não sabemos como é, foi perseguida, atingida em seu corpo mental, e devolvida ao nada.

As entranhas da Terra estão plenas de florestas tragadas, de restos de espécies animais desaparecidas, de cinzas de raças humanas e sobre-humanas cuja história, se nos fosse revelada, desafiaria a mais loca imaginação. Nossa verdadeira fêmea, ela também se misturou ao húmus dos abismos subterrâneos. Por quê?Ah, senhores, reflitam! Foi ela quem arcou com os custos da imensa, da implacável luta contras as religiões primitivas do Ocidente. Essa luta é toda a história do mundo dito civilizado. Os senhores acreditam que nos lugares onde as legiões romanas nuca conseguiram adaptar sua religião, na Gália ou na Grã- Bretanha, os soldados encontraram uma terra inculta e sem deuses? Em inúmeros luares na Europa, nas landes, nas planícies de menires, no fundo do mato e nas margens dos rios onde Pã cantava, sobrevivia a religião nativa oriunda da noite dos tempos , a verdadeira religião do homem ocidental. Senhores, estou certo que a Europa viveu durante milênios, de um elevado pensamento místico, ele mesmo oriundo de outras eras, consagrado ao Deus Cornudo e à exaltação do princípio feminino. É evidente que essa espiritualidade original foi afogada com violência, no fogo e no sangue, por uma religião estrangeira, vinda do Oriente: O Cristianismo. O Deus Cornudo foi chamado de diabo e amaldiçoado.

Os ídolos imemoriais foram derrubados e foi preciso destruir, junto com eles, seu suporte: a mulher-mãe; a mulher-deusa; a mulher-fêmea; a verdadeira mulher.
As pessoas cultas denunciam hoje as atrocidades do colonialismo recente: indígenas aniquilados, feiticeiros africanos extintos, as civilizações negras martirizadas. Mas nada falam de nossos antigos totens, que foram derrubados!
De nosso Deus que foi aviltado e perseguido! De nossas sacerdotisas que foram exterminadas! De nossa mulher que nos foi subtraída!A velha Europa também foi colonizada e desfigurada. Sim, senhores, ouço dize-lo. Do ponto de vista puramente antropológico em que em situo, a história da igreja cristã  é a história de uma guerra empregada  contra um culto nativo muito antigo, muito poderoso, muito profundamente arraigado e de um crime bem sucedido contar toda a raça humana fêmea.  Nós perdemos nossa metade, senhores! Como demonstrarei, ela foi morta.

Não acuso. Talvez esse crime fabuloso fosse necessário. E talvez fosse inevitável. A civilização não seria o que é hoje se a verdadeira mulher ainda existisse.
Nós continuaríamos a crer num Paraíso Terrestre. O espírito humano não teria tomado novos rumos. Não existiríamos hoje a ponto de atingir as longínquas galáxias, não teríamos aberto as portas do Universo, pelas quais já penetrara o chamado Deus do último, no qual se fundirão todos os nossos deuses, no qual  o espírito do globo se reabsorverá um dia, tendo cumprido sua missão. Mas examinemos esse crime. extermínio físico em fogueiras: evocarei as centenas de milhares de verdadeiras mulheres chamadas de bruxas  e queimadas como tais , e os outros milhões de mulheres vencidas  e transformadas pelo medo. Eu os remeto ao Michelet, livro visionário de La Sorcière, livro admirável e incompreendido. Extermínio pela propaganda, arma mais certeira de que todas as outras , como já sabemos, e mais eficaz na época do que a polé e os borzeguins. Guerra revolucionária empreendida pela Cavalaria contra a mulher verdadeira, a favor de um novo ídolo. E enfim, num plano mais amplo, mais misterioso e concomitante, mutação descendente de espécie. De tal forma que o ser feminino autêntico foi substituído por um ser muito diferente.
“Senhores, o ser que chamamos de mulher não é a mulher”. É uma degenerescência; uma cópia. A essência não está aí, o princípio não está aí, nossa alegria e nossa salvação não estão aí...

Chamamos de mulher, seres que dela não tem, se não, a aparência, tomamos em nossos braços imitações inteiramente ou quase destruída.
“A mulher é rara” – disse Giraudoux. Ao desposarem uma medíocre falsificação dos homens, um pouco mais artificiosa, um pouco mais maleável., a maioria dos homens desposa a si mesma. E a si mesmos que eles vêem passar pelas ruas, com um pouco mais de colo, um pouco mais de quadris, o todo envolvido em seda; é a si mesmos que eles perseguem, abraçam; desposa. Afinal, é menos frio que desposar um espelho. A mulher é rara, ela transpõe as enchentes, derruba os tronos, ela detém os anos. . Sua pele é o mármore!
Quando há uma, ela é o impasse do mundo... Para onde vão os rios, as nuvens, os pássaros isolados?Se lançar na Mulher... Mas ela é rara... Deve-se evitá-la quando a vemos porque se ela ama, é implacável, se ela detesta, é implacável. Sua compaixão é implacável... Mas é rara.

A verdadeira mulher, aquela que vem a nós do fundo das eras, a mulher que nos foi dada, pertence inteiramente a um universo estranho ao homem. Ela cintila no outro lado da Criação. Ela conhece os segredos das águas, das pedras, das plantas e dos animais. Ela fixa o sol e vê claro na noite. Ela possui as chaves da saúde, do descanso, da harmonia da matéria. É a feiticeira branca entrevista por Michelet, a fada de largos flancos úmidos e olhos transparentes, que espera pelo homem para construir o paraíso terrestre. Se ela se der a ele, será um movimento de pânico sagrado, abrindo para ele, na quente obscuridade do seu ventre, a porta para o outro mundo. Ela é a fonte de virtude: o desejo que ela inspira consome a excitação. Mergulhar nela devolve a castidade. Ela é estéril, pois detém a roda do tempo. Ou melhor, é ela quem semeia o homem: volta a pari-lo, nele reintroduz a infância do mundo Ela o devolve ao seu trabalho de homem. Dizem super-homem, não dizem super-mulher porque a super-mulher é aquela que faz o homem mais do que ele é.  A ela, basta existir, para ser,plenamente. O homem deve passar por ela para passar a s”ser” , a  menos que escolha outras asceses, onde ainda voltará a encontra-la, sob formas simbólicas.
Senhores, descobrir a verdadeira mulher é uma “graça”. Não ficar assustado, outra. Unir-se a ela requer a benevolência de Deus ...Que estranho encontro!Ela aparece bruscamente no rebanho das falsas mulheres, e o homem favorecido que a vê se põe a tremer de desejo e de tremor.

Diante de tudo isso, duas conclusões de impõem. Primeiro: o homem deve passar por ela para passar a serr. A mulher, toda mulher, é a verdadeira iniciadora do homem, sua via para o ser. Segundo: o sitema patriarcal privou o homem das mulheres verdadeiras, perigosas para sua supremacia. Em resposta, a mulher deve tornar-se consciente da Mulher que nela dorme: Já é tempo que ela saia do casulo!
O Tantra pode realizar essa tarefa essencial  e salvar nosso mundo moderno da perdição. Que a maioria dos adeptos do tantra no Ocidente sejam mulheres, comprova essa intuição. Elas sabem que essa via Evolutiva é fecunda e as conduz à Verdadeira Mulher nelas escondida, para voltar a ser Shakti eterna, que não deveriam ter deixado de ser.
Se o homem quiser merecer a verdadeira mulher, ele deve, para começar, aceitar essa idéia e depois reestruturar sua vida em torno dos valores da feminilidade. Nossa civilização patriarcal criou uma civilização tecnocrática, sem alma, sem ideal, sem amor verdadeiro. Baseada em falsos valores, ela leva ao cataclismo; à guerra. Aliás, está em plena falência. , em todos os planos, inclusive social e econômico.
Para se livrar disso, o homem deverá concordar em redescobrir sua feminilidade oculta, reprimida. Isso é utópico? Não, pois ao antigo culto está em pleno ressurgimento.

(Van Lysebeth- Tantra Culto da Feminilidade)



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